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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O Desaparecimento de Miollnir - Conto Nórdico


                    A alguns anos um velho amigo meu, com o qual eu perdi contato infelizmente, que compartilhava a mesma paixão por mitologia e história antiga comprou um livro que ambos estávamos a meses secando nas pratilheiras da Saraiva que se chamava As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica de A. S. Franchini  e Carmen Seganfredo.
                     Como ele morava um bocado longe da Capital de São Paulo não tinha como me emprestar o livro, mas teve o trabalho de digitar a mão algumas lendas do livro que eu escolhi para que eu pudesse ler elas, na epoca achar estas coisas na internet não era tão fácil, os e-books ainda estavam começando a ficarem mais populares. Uma das lendas que eu mais gostei sem duvida foi O Desaparecimento de Miollnir, o qual contava como Loki astutamente recupera o martelo de Thor e ainda consegue tirar um sarro com o Deus do Trovão e que mais tarde um professor meu que era desenhista, inspirado pela historia fez uma ilustração do Thor disfarçado de Freya (que pena que não tenho o scan...).
                     O Caso foi que eu realmente achei a narração do livro um tanto porquinha, não era a historia escrita fielmente e sim uma releitura dos autores do livro, então eu pensei "vou fazer uma releitura da releitura", e assim surgiu esse texto que eu publiquei inicialmente no Nyah! Fanfiction e que hoje eu dei de cara por acaso e fui tomada por uma nostalgia, depois de reler achei interessante publicar o texto aqui.

                     Os creditos do texto original vão para o livro As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica, mas o texto é uma releitura de minha autoria, só pra reforçar.

Obs: Um amigo observou Mjölnir ao invés de Miollnir, mas assim estava no livro, acredito como a maioria dos nomes antigos deve haver algumas variantes na gramatica e de acordo com a Wikipédia:  "O Mjölnir (em português: aquilo que esmaga; pronúncia: miêlnir ou miôlnir, sendo mais comum miôlnir)"

~*~*~*~

 O Desaparecimento de Miollnir
- Releitura por Helena Cruz (2004)

                     Thor, o deus do trovão e um dos filhos de Odin, despertou certa manhã coçando sua barba loura com uma estranha sensação que o deixava inquieto, sentia que algo estava diferente e que algo importante lhe faltava, perguntava-se a todo momento que vazio era este que tanto o angustiava ao decorrer da manha.
                     Por toda a manha a sensação de vazio se prolongou. Querendo saber a causa dela, Thor começou a procurar em seus pertences o que deveria estar faltando até que algum tempo depois quando foi onde costumava guardar seu poderoso martelo, o Miollnir, descobriu de onde vinha tal pressentimento ao encontrar um bilhete no lugar onde seu martelo deveria estar e nele podia se ler com certa dificuldade em uma letra desleixada.


                     Thor deus do trovão, caso deseje retomar a posse de seu poderoso martelo Miollnir poderá entrar em contato comigo por um mensageiro ou venha pessoalmente, pois escondi teu martelo nas entranhas da terra em um local desconhecido por todos vocês de Asgard, estou aberto a negociações como resgate de seu martelo.
Assinado: Thryn, da maravilhosa raça dos Gigantes


                     Tomado pela cólera Thor amassou o bilhete em suas mãos e o jogou longe, fechando os punhos com força e o rosto vermelho com uma expressão amedrontadora bradou alto para que sua voz alcançasse os mais remotos cantos de Asgard fazendo as paredes estremecerem:
–Loki seu trapaceiro!!! Apareça!!! – Exigiu Thor gritando cada vez mais alto para que o outro deus aparecesse o mais rápido possível.

                     E em poucos instantes o deus Loki apareceu, tão diferente de Thor que era corpulento e musculoso com seus cabelos loiros trançados e sua longa barba, enquanto ele o deus da trapaça era esquio e magro como uma serpente com seus longos e lisos cabelos escarlates como sangue as costas e sem o menor vestígio de barba em seu rosto de feições finas e angulosas, ele andava rapidamente com seus passos felinos logo ficando a frente do deus do trovão.
– O que houve, poderoso Thor filho de Odin para exigires minha humilde presença com tanta urgência? – disse Loki, parecendo assustado.

– Aquele maldito gigante Thryn furtou meu martelo!!! – disse Thor, quase possesso com a face tomada pela ira. – Quero que você vá, imediatamente, até a morada dele para saber quais são os termos e as exigências que o desgraçado esta fazendo para devolver meu Miollnir. Você Loki é descendente daquela raça maldita e imunda, ninguém melhor do que você para saber como engambelá-lo, muito melhor do que eu. Vá logo ou eu mesmo irei até onde esse verme esta se escondendo esmagá-lo!


                     Loki partiu rapidamente dos aposentos de Thor afim de cumprir sua missão como mensageiro e negociador, antes de sair de Asgard foi até bela Freya, deusa do amor, para lhe pedir um favor que o ajudaria em sua viajem.
A bela deusa havia acabado de acordar, como de costume muito tarde e encarou mal-humorada Loki adentrando em seus aposentos enquanto ela penteava seus longos cabelos que pareciam fios de ouro reluzindo a luz.
– O que você quer aqui a esta hora Loki? – disse ela, demonstrando seu mal-humor em cada palavra e com cara de sono, mesmo assim com a voz sedosa e encantadora.

– Bela Freya, a mais bela entre as belas, peso humildemente perante vossa beleza que me empreste o seu casaco de pele de falcão para cumprir uma importante missão para Thor. – disse Loki, sem economizar nos elogios a deusa e terminando tudo com uma reverencia exagerada.

– Aonde vai você em nome de Thor e por qual motivo? – disse Freya, desinteressada e ainda mal-humorada.

– Houve um terrível furto em Asgard, este é o motivo! – disse Loki dramaticamente anunciando o roubo.

Furto...? Que furto, quem foi roubado? – disse agora a deusa tendo seu interesse despertado pela curiosidade e por achar que se tratava de uma boa fofoca.

– O gigante Thryn furtou o poderoso martelo de Thor enquanto este dormia e exige a presença de um mensageiro para negociar!

– Que horror! – disse Freya, ficando com as faces rubras e os olhos arregalados de espanto. Depois rapidamente indicando o local onde guardava seu casaco, completou - Vamos, pegue-o e trate de logo recuperar a arma do pobre Thor pelo bem de todos os deuses.

                     Freya sabia muito bem que sem seu martelo, o deus Thor não poderia defender Asgard dos ataques dos gigantes, seus tradicionais inimigos e assim todos os deuses estariam correndo um grande perigo. Loki rapidamente pegou o casaco e o vestiu, se metamorfoseou em seguida num elegante falcão de penas rubras como o fogo que tanto lembravam seus cabelos. Assim travestido de falcão, levantou vôo e percorreu em grande velocidade as amplidões que levavam à morada dos gigantes, em Jotunheim. Após circular por vários locais com estrema cautela valendo-se de sua astucia, acabou por descobrir a caverna onde se escondia o temível gigante Thryn. Em alguns instantes Loki pousou na entrada do gélido covil e voltando a sua forma original despindo o casaco de Freya, e dando um passo a frente para dentro da caverna dizendo com a voz mais nobre possível.
– Ó Magnânimo Thryn, vim buscar o martelo do Magnífico Thor!

– Entre logo, miserável Loki! – disse o gigante com sua voz rouca.

                     Um pouco hesitante o deus da trapaça adentrou a caverna e logo percebendo como era claro em seu interior, as luzes oscilantes e avermelhadas das tochas eram refletidas por toda a sua extensão pela sua intrigante decoração, tudo feito a ouro e dourado que chegava ao ponto de quase cegar quem estivesse lá dentro.
– Nossa, quanta luz se tem em vossa caverna grande Thryn!... – exclamou Loki, pondo a mão sobre os olhos afim de protegê-los enquanto se aproximava do gigante.

– É que eu sou meio míope e gosto de tudo às claras. – disse o gigante, refestelado em seu esplêndido trono dourado.

– Se gosta de tudo às claras, diga-me logo, onde está Miollnir e retornarei para Asgard com os seus melhores votos. – disse Loki, sugerindo.

– Você retornará para Asgard – disse o gigante, ajeitando melhor o gigantesco traseiro sobre a almofada de veludo escarlate com fios de ouro- mas é para me trazer a adorável Freya em pagamento do brinquedinho de Thor, que certamente, levará de volta depois de me entregar a bela deusa.

                     Um sorriso desdenhoso se fez nos lábios do astuto deus, Loki não seria Loki se não ousasse sair da presença do gigante sem rebater uma resposta a altura provocando-o.
– Perdão, poderoso gigante – disse ele, com o ar tão sereno quanto possível - mas jamais poderá usar o martelo sem as luvas de ferro de Thor e de nenhuma utilidade ele lhe servira.

– Nem eu, nem ele – respondeu secamente o gigante. – Não me obrigue agora a repetir tudo o que já lhe disse, trate de ir logo embora trazer-me a deusa Freya!.

                     Loki saiu da gélida caverna voltando a vestir o casaco da deusa transformando-se mais uma vez no elegante falcão escarlate cruzando assim os céus como uma risca de fogo até chegar novamente em Asgard. Lá diante dos deuses e deusas comunicou as exigências feitas por Thryn e contou com exagero de detalhes (e um pouco de drama como havia se de esperar vindo de Loki). Após o termino de sua narração teve que escutar os gritos furiosos da deusa do amor que em hipótese alguma admitia ser levada como resgate do martelo e dada ao asqueroso e repugnante gigante. Thor por sua vez também não admitia como os outros deuses de Asgard perder a mais bela das deusas, Odin perdendo a paciência bateu por diversas vezes sua lança Gungnir no chão fazendo a terra sobre os pés de todos estremecer enquanto amaldiçoava o gigante Thryn com a mais baixa linguagem, assim seguiu-se a discussão dos deuses sobre as medidas a serem tomadas até que Loki o esperto teve uma idéia a qual julgou excelente e perfeita. 
– Eis o que faremos senhores e senhoras de Asgard! – disse ele, tomando a palavra com extrema pompa fazendo uma reverencia respeitosa a Odin. – Thor e eu iremos juntos até a morada do gigante Thryn travestidos de mulheres, ele de Freya, e eu de sua escrava e acompanhante.

– Você esta louco Loki!? – disse Thor ficando furioso, brandindo seu punho na direção de Loki pronto para começar uma briga. – O que dirá de mim aquela raça degenerada dos gigantes, quando descobrirem que ando por aí vestido de mulher!?

– Dirão, poderoso Thor deus do trovão, que você é um deus muito inteligente e astuto, que recuperou seu martelo após haver engambelado todos eles, feito eles todos de idiotas!!! Todos dirão por muito tempo como venceu Thryn usando sua formidável inteligência!! – disse Loki, recorrendo ao eficiente recurso do apelo à vaidade dos outros.

                     O deus do trovão ainda relutou um pouco procurando outra maneira sem ser botar um vestido e maquiar-se, mas não descobrindo outro recurso eficiente acabou por ceder a idéia do deus Loki.

– Deixe-me ver seus vestidos cara Freya – disse o deus do trovão à Freya, meio desenxabido ainda não gostando da idéia.

                     Depois de Thor e Loki terem passado em revista o infinito guarda-roupa da deusa da fertilidade, acabaram por escolher duas peças menos chamativas e é claro, uma que coubesse em Thor. Em seguida, tiveram seus rostos barbeados, Thor com relutância já que amava sua barba longa, já Loki nem tanto e depois foram pintados por uma pesada maquiagem para ocultar a sombra que suas barbas raspadas haviam deixado, Thor não cansava de alisar o queixo e reclamar que se sentia pelado sem sua barba loura que de tão comprida tinha sido fora possível se fazer tranças.
– Vamos de uma vez para que eu logo possa tirar esse maldito vestido! – disse Thor, que decidiu sair durante a noite em sua carruagem puxada por duas cabras para não chamar muito a atenção e nem ser visto tão cedo com aqueles trajes femininos.

                     Aquela foi uma viagem muito constrangedora, mais para Thor do que para Loki que se divertia em tirar sarro da situação e dos trajes em sua própria mente. Um silêncio desconfortável acompanhou-os durante toda a viagem até que finalmente chegaram aos domínios gélidos do gigante Thryn.
                     Ambos desceram da carruagem e foram para a entrada do covil do gigante, Thor quase tropeçando na barra do vestido e praguejando pela falta de costume, Loki vindo logo atrás dando uma risada abafada. Dentro da caverna mais uma vez a forte luz quase ofuscou os olhos dos deuses e logo foram ter com Thryn que estava sentado como antes no trono dourado sobre a almofada escarlate.
– Oh, Freya adorável! – exclamou o gigante, que não era lá muito bom das vistas não vendo que se tratava de um homem e ainda por cima de Thor – Você veio, então! E esta donzelinha encantadora, quem é?

Loki baixou os olhos como uma boa serva deixando a trança na qual seus cabelos escarlates estavam amarrados cair para frente.
– É minha escrava – disse Thor sem afinar a voz, dando um tapa demasiado forte na cabeça de Loki quase fazendo-o cair de cara no chão – É meio fraca dos miolos. Mas, falemos de nós, audaz gigante!

– Oh sim, falaremos muito de nós dois minha bela! – disse Thryn.

                     Em seguida o gigante levantou-se de seu trono e levou Thor e Loki para seus amplos salões dourados. Ali, um magnífico banquete de núpcias estava preparado para recepcionar aquela que imaginavam ser a deusa do amor e sua bela escravinha de cabelos escarlate que olhava tudo com um ar maldoso cheio de sua astucia. Os dois foram logo instalados na maior mesa do salão, cercados de gigantes de colossal estatura e de suas respectivas esposas que se fartavam no banquete de uma maneira ruidosa e sem modos. Thor e Loki foram servidos com muita atenção. O deus do trovão que trazia uma fome tremenda da viagem, não se fez de rogado e esse serviu à vontade de comida e bebida. Pilhas de carne assada foram tragadas por ele junto com oito salmões recheados de pequenas carpas e quatro barris inteiros de hidromel, além de uma quantidade fantástica de doces, o que encheu de assombro o seu “noivo” Thryn que por um momento desconfiou da falsa deusa.
– Nossa Freya! Não sabia que tinha tanto apetite! – disse Thryn, boquiaberto e olhando com um pouco mais de atenção para Thor desconfiado.

                     Loki percebendo a desconfiança do gigante e vendo o ataque bárbaro de Thor sobre o banquete soltou um longo suspiro e se pois a salvar o plano antes que o gigante percebesse a verdade.
– Permita-me, majestoso e poderoso Thryn, explicar-lhe o motivo da conduta de minha senhora – disse Loki, disfarçado de escravinha afinando a voz o quanto conseguia deixando-a com um tom de seda. – É que a deusa esteve tão ansiosa estes dias que antecederam à nossa viagem, que não teve ânimo para pôr nada entre os dentes antes de estar ao seu lado meu senhor.

                     Ao ouvir tal explicação Thryn deu um largo sorriso de satisfação que lhe arreganhou os dentes medonhos.
– Muito bom escutar isto! – disse o gigante, deliciado com aquelas palavras. – Muito bom mesmo, assim vale a pena...! É uma prova de quanto minha noiva já deseja estar ao meu lado!

                     Empolgado por aquela declaração indireta de amor que Loki lhe sugeriu, o gigante aproximou seus lábios de Thor e tentou roubar-lhe um ousado beijo e abraçá-lo. A “deusa”, entretanto, lançou-lhe um olhar tão furioso, que as carnes dos gigantes presentes tremeram por cima dos ossos e deixou Thryn pálido de medo.
– Não é nada, não se assuste! – disse Loki ao ouvido de Thryn tentando apaziguar as coisas e não deixar o plano ir por água a baixo – É apenas o nervosismo que antecede o grande momento... entenda...

                     O “grande momento”! Esta expressão trouxe à imaginação do gigante um mundo de fantasias tão sublimes (opa, coisa proibida para menores de18 anos) que entusiasmando-se, chamou logo um dos criados e bradando alto.
– Traga, imediatamente, o martelo Miollnir para que assim meu casamento possa ser realizado o mais rápido possível!!!

                     Um lacaio trouxe rapidamente o magnífico Miollnir. Os olhos de Thor faiscaram de uma maneira ameaçadora enquanto ele remexia as suas saias em busca de suas luvas de ferro que escondera embaixo das inúmeras saias.
– Coloquem-no entre os joelhos de minha noiva Freya – ordenou Thryn, incontinenti. – Assim, estará simbolizada a devolução e o nosso casamento!

Um dos lacaios aproximou-se, reverentemente, e colocou Miollnir entre os joelhos da falsa Freya com todo o cuidado possível.
                     E, aqui começou o massacre. Tão logo Thor teve ao seu alcance a sua devastadora arma, retirou em um movimento rapido de dentro das saias as sua mão enluvada e tomou do martelo com os olhos brilhando possesos. Com a outra mão ergueu a mesa e a lançou de encontro à parede com pratos, talheres, sopeiras douradas e tudo o mais que tivesse sobre ela.
                     Um alarido de medo escapou da garganta dos gigantes quando Thor, desvencilhando-se das suas afeminadas roupas de saias longas e cheias, partiu para cima dos seus adversários, eliminando em primeiro lugar o seu “noivo” com uma poderosa martelada no crânio. Logo em seguida arrasou com tudo de tal forma, que nem as gigantas ou os lacaios escaparam de sua fúria. Loki limitou-se a ficar fora do caminho do poderoso deus e a assistir o massacre rindo-se e deleitando-se com o sucesso de seu plano soltando rapidamente a trança na qual seu cabelo estava preso e voltando a dobrar-se de tanto rir maldosamente. Terminado o massacre, Thor subiu de novo no seu carro junto com Loki e retornaram ambos para Asgard, levando consigo o martelo e sua honra restaurada. Mas é claro, aturando algumas piadas infelizes do deus da trapaça sobre como Thor ficou “linda” vestindo as roupas de Freya.

1 comentários:

Anônimo disse...

Essa história me lembrou de uma história do thor de uma revistinha da marvel (não, não era do thor rockeiro com elmo de asinha...), que contava uma historia do roubo do mjolnir, que provavelmente era uma adaptação desse conto.

Gostei muito dele '^'

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